Construí na minha cabeça a tua imagem e era perfeita: os olhos grandes e pestanudos como os do teu pai e o sorriso aberto e luminoso como o meu. Dei-te um nome, não, dei-te vários nomes, caso fosses rapaz ou rapariga; imaginei o momento em que iria apresentar a tua fotografia a preto e branco aos teus familiares, até ensaiei a frase que ia dizer " este é o vosso neto"; vi-te crescer dentro da minha barriga, recriei os teus primeiros pontapés, tu a esticares os teus bracinhos e as tuas perninhas nesse pequeno e aconchegante espaço do meu útero. Depois pensei no teu nascimento, em quem estaria a meu lado para te receber - não o teu pai, pois era capaz de desmaiar... Imaginei como seria pegar-te ao colo e encostar-te ao meu calor e aspirar o teu odor doce de bebé. Imaginei tudo isto durante dois dias, quarenta e oito horas apenas, em que soube estar grávida de ti, meu filho, que nunca vou conhecer. Imaginei para ti, meu filho, uma vida perfeita e tu desististe de viver... Não há palavras para a minha dor.